6 October 2014

(coração)

Gosto de gostar de ti.
Adoro amar-te tanto.
Amo adorar-te assim.

Quando me dou, gosto de me dar por inteiro.
Quando gosto não me sei dar só um pouco.
Quando gosto não consigo deixar um pouco de mim comigo. Não gosto com cautelas.
Não amo com precaução.

E não adoro só uma metade tua. Não gosto só de uma selecção de primeira escolha de ti.
Não amo só as qualidades. Não convivo só com os lados felizes. Não gosto só do bonito de ti.

E quando me gostas como eu te gosto; quando me entendes como eu te entendo; quando me olhas como eu te olho; quando me sentes como te sinto: gosto de nós e amo gostar de nós.

Tanto. E sempre.

in Gosto de ti, e então?
Rita Leston

24 September 2014

É tão isto que quero contigo.

Quero dormir num abraço. Quero acordar num beijo. Quero passeios de fim-de-semana. Quero mãos dadas, passeios na praia e rebolar na areia. Quero ver o pôr-do-sol ao fundo, quero a lua como companhia e contar estrelas contigo. Quero jantaradas de amigos. Quero discutir o que fazer para o jantar. Quero sofá contigo. Quero cama contigo. Mesa contigo. Quero reclamar contigo porque não despejaste o lixo. Quero um "amo-te" a meio do dia, só porque te apeteceu. Quero provocar-te a meio de uma reunião, só porque me apeteceste. Quero  saber o teu dia e contar-te o meu. Quero ter o teu colo sempre disponível e o meu ombro apetecível. Quero o teu abraço calado e a tua conversa chata. Quero o teu sorriso de menino tímido e o teu sarcasmo de homem decidido.
Quero-te a ti. Sempre e em tudo isso.
E tu? O que queres?

in Gosto de ti, e então? by Rita Leston

7 August 2014


tenho medo de te perder. 
tenho medo de me perder, por ti.
Só a corda bamba te prende à vida.
- Mas dói. Mas treme.
- E no entanto segura-te. E no entanto agarra-te. Faz-te querer mais daquilo, para sempre daquilo. Só o que te escorrega por entre os dedos te prova verdadeiramente que tens dedos. Só quando estás perante a quase morte valorizas a vida.
- Gostas de tremer?
- Preciso de tremer. Preciso de sentir a corda bamba, as pernas bambas, o corpo bambo. Só o que me tira de mim me alimenta. Um orgasmo faz-me tremer, uma euforia faz-me tremer.
- Uma dor também.
- Tenho de entender o que sou. Mesmo que doa. Só quem treme entende o que é. Os outros não são: vão sendo. E nunca tremem. Tenho uma pena tão grande de quem nunca tremeu. O que andam eles a fazer por aqui? Nada do que não me fez tremer foi inesquecível.
- A vida serve para viver momentos inesquecíveis.
- Nunca te esqueças disso. Só existe vida se algo em ti estiver bambo. Só o que te faz tremer te impede de esquecer.
- Faço-te tremer.
- Sempre.
- E quando parar?
- Teremos de encontrar outros caminhos. Outras formas.
- Outras pessoas?
- Se tiver de ser. As pessoas servem para te manter alerta, para te manter atento, para te manter ligado. Quando uma pessoa que amas serve para te desligar já não é uma pessoa que devas amar. O amor tem de exigir vigilância máxima, tens de ser um soldado no campo de batalha, todo o teu corpo à espera de um ataque, de uma bala perdida. E se há algo em que o amor é imbatível é na quantidade de balas perdidas que liberta. Por vezes és atingido e nem percebes. E já não existe amor, só uma dor que se vai alargando no meio do teu peito, uma dor que te consome, que te dilacera, que te abate. Pensas ser amor e é apenas uma ferida. Há feridas que parecem amor.
- Uma distração e o amor acaba.
- Uma distração e a vida acaba.
- Foi o que eu disse.

in "Prometo Falhar", de Pedro Chagas Freitas.